Revista: Complex
Fotos: Thierry le Goués Edição: Agosto/Setembro de 2011 Resumo: Matéria da revista Complex sobre a nova fase na carreira de Beyoncé e seu novo álbum, “4″. Tradução e adaptação: Roberta Lessa | |
Quem domina o mundo do pop? Beyoncé. Depois de um ano de folga, a Queen Bey está de volta para reivindicar seu trono.
O senso-comum diz que uma pessoa deve temer fazer trinta anos. É aquela idade na qual o relógio biológico começa a apitar, como uma bomba-relógio. Trinta anos é o ponto que alguém pode chamar uma mulher de “velha” – e ela até pode acreditar nisso.
É claro que o senso-comum não é tão sábio assim. Trinta não é nada ruim. (Na verdade, as mulheres ficam mais bonitas e sexy durante os 30 e pouco anos. #apenasdizendo) Ainda assim, preocupa algumas pessoas. Beyoncé Giselle Knowles faz 30 em setembro. Ela está ciente do tempo passando. Seu relógio biológico, no entanto, não tem nada a ver com com pensamentos inseguros ou se sentir velha ou gasta. Nem um pouco a ver.
Não, Beyoncé está correndo contra o tempo por causa de uma simples questão: aonde ir depois daqui? Como uma pessoa de trinta anos se sente se ela já conseguiu tudo que todos sonham em termos de riqueza, fama, parcerias artísticas e amor em seus primeiros vinte e poucos anos?
Para Beyoncé, a resposta dessa pergunta também é simples. Para onde ir? Para onde ela quiser. Bey passou seus últimos 15 anos trabalhando. Agora, já sendo um ícone mundial, ela combina coração e razão na missão de estabelecer um legado que será construído baseado em sua liberdade artística. Ela não tem medo de fazer trinta. O mundo que deveria ter.
Em março de 2010, Beyoncé encerrou a turnê de seu álbum I Am… Sasha Fierce e fez algo que ainda não tinha feito em sua vida adulta: viveu a vida normalmente. Depois de anos mantendo uma agenda que incluía turnês exaustivas, ela tirou as tãos merecidas férias. Durante um ano, ela cuidou de si mesma. Ela dormiu em sua própria cama por vários dias seguidos. Ela foi a shows, ao cinema e a museus com amigos. Ela passou um tempo navegando no iTune de sua irmã caçula, Solange (que é DJ nas horas vagas), brincando com seu o sobrinho e assistindo documentários sobre Jean-Michel Basquiat.
É claro que o conceito de “férias” é algo um pouco diferente para Beyoncé. (Sim, ela viajou. E te digo que a maioria de nós não tem a permissão de visitar vários lugares que ela visitou.) O que você faz durante suas férias? Bem, a mulher que mais trabalha no mundo do entretenimento abriu uma empresa de produção e aprender a editar vídeos. E, em estúdios por todo o mundo, ela gravou mais de 60 músicas, das quais 12 entraram em seu novo álbum, “4″, lançado oficialmente em junho. Veja bem, quando, para nós, um ano de folga significa ficar o tempo todo de pijama, para Beyoncé, até a hora de folga é hora de trabalhar. “Eu viajei, eu li, eu assisti a filmes,” ela diz. “Inspiração está em todos os lugares, em todos os momentos do dia.”
A inspiração para “4″ veio de diferentes fontes e seu resultado final foi algo que não soa como nenhuma delas. Insatisfeita com a situação atual das rádios, ela criou seu próprio estilo, baseado nas inspirações que já esperemos que ela cite até as que nos surpreendem. “Descobrir como colocar o R&B de volta nas rádios é desafiador,” ela explica. “Tudo soa o mesmo no rádio. Com o “4″, eu tentei misturar o R&B dos anos 70 e 90 com rock’n'roll e com vários instrumentos para criar algo novo e excitante. Eu queria mudanças musicais, pontes, vibrata, instrumentos variados e composições clássicas.”
Ela começou o processo com a banda Fela!, do musical da Broadway baseado na vida do pioneiro do Afrobeat Fela Kuti e gravou faixas em vários lugares, desde Nova York e Austrália até em um estúdio de Peter Gabriel na Inglaterra. E, seguindo seu mantra de “nada de regras”, ela trabalhou com parceiros de sempre (The-Dream, Babyface) e com alguns novos (Switch, Sleigh Bells). Ela trabalhou até com Odd Future. “Jay estava escutando um CD no carro em um domingo enquanto nós passeávamos pelo Brooklyn,” ela se lembra de quando ouviu Frank Ocean pela primeira vez. “Eu percebi o tom dele, os arranjos, e como ele contava histórias. Imediatamente entrei em contato – na manhã seguinte. Pedi para ele vir para Nova York para trabalhar no meu disco.”
André 3000 também está nessa. Ele aparece na faixa produzida por Kanye West, Party. Beyoncé também quis se reunir com esse último, que compôs “Runaway”, uma música que quase a fez chorar da primeira vez que ela a escutou. Ele tocou a música para ela em seu aniversário.
“Ele canta a dor dele, a confusão e a raiva, sem letras pré-escritas, foi muito tocante,” ela diz. “Ele cantou com o coração por cinco minutos. Ele é tão vulnerável. Amo quando um artista é honesto.”
Lançado em abril, o primeiro single “Run the World (Girls)”, traz a batida de Pon de Floor, de Major Lazer, mas é o estilo vocal de Beyoncé e sua marca feminista que faz a música ser a cara dela.
“Eu descobri que hits trabalham letras e melodia ao mesmo tempo,” ela explica. “Sei que os refrãos das músicas normalmente derrubam as barreiras de língua, raça e gênero, é algo que mexe com a cultura pop. É algo que eu vejo as pessoas cantando em estádios por todo o mundo. Mas as minhas músicas favoritas em meus álbuns normalmente não são singles.”
A estreia mundial do vídeo de “Run” foi, como esperado, um evento, mostrando um mundo pós-apocalíptico em meio a areia e muita dança. Beyoncé trouxe um pouco de Tina Turner em Mad Max, com um pouco de Grace Jones em Conan, simbolicamente demonstrando que ela ainda, de fato, comanda o mundo.
Antes de dominar o mundo, no entanto, Beyoncé está começando a controlar sua carreira. Em março, ela anunciou que não seria mais empresariada pelo pai, Mathew Knowles. Os dois lados tentaram falar da separação em tom amigável, mas esse foi um passo gigante para a artista que sempre teve a família envolvida em toda sua carreira. De fato, essa é uma evolução natural, e não significa que outros membros da família não continuem dando palpite.
“A música do Jay é mais que música. As letras deles marcam gerações,” ela diz de seu marido há três anos. “Tudo que ele superou dá esperanças a milhões de pessoas. Em alguns momentos, quando o vejo cantando, penso: ‘Uau! Como tive a sorte de testemunhar um gênio tão de perto?’”
“Sempre que me sinto mal, uso esse sentimento para me motivar a trabalhar ainda mais,” diz uma Beyoncé mais sábia, mais madura, que aprendeu a lidar com vários obstáculos, como um período de depressão durante o primeiro rompimento do grupo Destiny’s Child. “Eu só me permito sentir pena de mim mesma por um dia. As pessoas que reclamam me irritam. Quando não estou nos meus melhores dias, pergunto a mim mesma: ‘O que você vai fazer a respeito disso?’ Eu uso a negatividade como combustível para me transformar em uma pessoa melhor.”
A busca por foça interior sempre esteve presente nos hits das Destiny’s Child. Músicas como “Independent Woman Part 1,” “Survivor,” e o ino “Bootylicious” ligaram para sempre as DC ao termo “poder feminino”. Como artista solo, Beyoncé continou cantando para a mulheres, como em músicas como “Irreplaceable” e “Best Thing I Never Had”, o segundo single (co-escrito por Babyface) de “4″. Letras como “Você se mostrou e eu vi quem você era realmente” e “Aposto que é uma merd* ser você nesse momento,” se tornaram formas de Beyoncé se conectar com suas fãs (mas os rapazes também podem se identificar).
Na verdade, até existem horas onde a união feminina não está tão unida assim, como quando Beyoncé foi fotografada para a capa do single de “Best Thing I Never Had”. Ela escreveu “Rei B” com batom vermelho em um espelho. O problema foi que a diretora de vídeos Vashtie Kola já tinha feito algo parecido, como ela fez questão de comentar no Twitter.
Também existem outros conflitos ou, pelo menos, é isso que acham. Algumas pessoas estão convencidas de que existe uma certa tensão entre Beyoncé e sua ex-parceira de grupo, Kelly Rowland, apesar de as duas afirmarem que são amigas e serem vistas juntas. O fato de as duas terem lançado singles no mesmo dia em 2008 foi interpretado como se Bey estivesse tentando sabotar Kelly. (Esse ano, fãs foram à loucura quando o single mais recente de Kelly, “Motivation”, ficou acima de “Run the World” no iTunes.) As rainhas da fofoca também insistem que existe uma rixa entre Beyoncé e Lady Gaga, apesar de as duas terem trabalhado juntas duas vezes recentemente. Os rumores, pelo que parece, são somente rumores.
Entao, é claro, temos a “rival” da Bey, Rihanna. Essa “briga” até faz sentido, apesar de as duas terem afirmado que isso é mentira. A estrela de Barbados, que também tem uma carreira estelar, já afirmou repetidamente e respeitosamente em entrevistas como se inspira em Beyoncé.
Bey, que continua aparecendo nas listas da Forbes e ganhando Grammys (seus seis prêmios ganhos em apenas uma noite em 2010 foram um record para uma artista feminina), não dá muita atenção a esses dramas, apesar de vermos que a questão a incomoda. “Existe espaço para várias rainhas,” ela começa diplomaticamente, antes de dizer porque se distingue: “Eu tenho um talento autêntico, dado por Deus, foco e longevidade que sempre me distanciaram dos outros. Eu tive sorte de alcançar coisas que as gerações mais novas sempre sonham em alcançar. Não desejo o trono de mais ninguém. Estou confortável no trono que venho construindo há quinze anos.”
O engraçado é que, seu conforto em seu trono é o que a deixa fora da competição – a rainha é uma plebeia em termos de coração. Ela é amiga de Oprah e cantou na primeira dança do presidente dos EUA com sua mulher, mas ela vai e dança em festas de conhecidos quando visita a sogra em West Orange, New Jersey (como um vídeo publicado ano passado no You Tube mostra).
Beyoncé não quer ser perfeita; ela só quer ter a liberdade que merece ter por ser o que é: uma das artistas que mais realizou feitos no século XXI. “É importante que não haja fronteira em minhas músicas,” ela diz. “A beleza da arte é que você pode criar uma fantasia em sua mente sobre o que a música trata. Apenas o artista sabe, exatamente, sobre o que a música é.”
Talento e foco. Estilo e design. Os primeiros talvez sejam naturais, mas os dois últimos são resultado de muito, muito trabalho. “Eu quero deixar um legado de ótimas músicas. Alguém que correu riscos, alguém que fez músicas que inspiraram conversas e emoções.” Você pode ter medo de fazer 30 anos se quiser, mas não é isso que deixar Beyoncé sem dormir à noite.
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COMPLEX - AUGUST/SEPTEMBER 2011
Postado por
Thaís Bitencourt
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20 de dez. de 2011